Um Hotel Design (Im)Provável Dentro da Casa Cor SP 2019.
O manejo das cores não é para os fracos. Barragán, Legorreta, Frida Kahlo e dois Pedros, Almodóvar e Lázaro, comprovam minha teoria: cinco nomes, múltiplas formas de expressão, e uma paleta vibrante mesmo quando tudo pede neutralidade.
Esse foi o pensamento que me ocorreu ao receber as fotos do Coral Hotel na Casa Cor SP 2019. E se ainda havia ressalvas no meu ser quanto à despudorada ideia de Cor embalando a Arte elas foram derrubadas pelo diálogo franco e estimulante com o qual o arquiteto Pedro Lázaro desmistificou o cubo branco hermético como ambiente determinante para o colecionismo e introduziu no espaço que assina as cores em 100% das paredes e tetos construídos para dialogar com as mais diversas plataformas artísticas.
Mais que um hotel inserido na Casa Cor, este espaço (im)provável traduz o conceito de hotel design que tem se espalhado pelo mundo com sua promessa de experiências personalizadas e savoir fair dentro do contexto urbano.
POESIA, A FINA FLOR DO MOBILIÁRIO BRASILEIRO, E MAIS
O mobiliário escolhido por Pedro Lázaro para seu espaço passa longe da obviedade. O olhar afiado e veia curatorial do profissional trouxe à cena peças garimpadas brindando-nos não só com ícones como Zanine Caldas e Etel Carmona, mas também com influenciadores diretos do nosso design como o finlandês Alvar Aalto e suas peças curvilíneas que dividem espaço com a obra intrigante do artista plástico Ernesto Neto.
Passear por esses ambientes divididos entre lobby, suíte máster, closet e sala de jantar é experienciar quase um século de design que nos propõe uma profunda reflexão sobre a estética e o jeito brasileiro de morar.
Na fachada do prédio histórico do Jockey Club, uma espécie de antessala deste projeto que infelizmente não poderei mostrar aqui porque as fotos não chegaram, passado e futuro se fundem numa revoada de pássaros de madeira para nos lembrar que nesses tempos líquidos a natureza sintética é o que nos restará quando as referências naturais se transformarem apenas em memórias.
Enfim, este espaço inusitado não é sobre ter 300 m² no maior evento de decoração do País, não é sobre a mais fina flor do mobiliário brasileiro, não é sobre design e nem sobre as cores lindamente entrelaçadas com a arte num abraço apertado. O hotel de Pedro Lázaro, para mim, é sobre conceito e legado; uma viagem orquestrada com maestria e maturidade através de um universo sensorial onde só os fortes sobrevivem.
Fotos: Rômulo Fialdini.
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